segunda-feira, 30 de abril de 2012

inércia no jornal o fluminense de hoje




Matéria de hoje (29/04/2012, domingo) na O FLU Revista, do Jornal O FLUMINENSE.

Acreditando na máxima de que o "Punk não está morto", grupos de Niterói se reúnem para tocar os sucessos da banda. Na cidade, o movimento foi marcante, apesar de efêmero. Completando 35 anos em 2012, o ‘Never Mind The Bollocks’, primeiro e único disco de estúdio dos ingleses do Sex Pistols, está na promessa de ser reeditado e de ganhar até nova embalagem para celebrar a data. Lançado em 1977, bem no início do movimento punk rock, nascido entre 1974 e 1976, o álbum modificou o cenário musical da época, trazendo propostas revolucionárias. As transformações influenciam as gerações desde então, que continuam utilizando elementos “punks” na música, nos acessórios e no jeito de levar a vida.

Em Niterói, a história com o movimento não foi muito duradoura, mas marcante. O que se mostrou mais, a exemplo do que houve no mundo, foram bandas influenciadas não só pela Sex Pistols, mas também pelas conhecidas Ramones e The Clash. No Brasil, uma referência era a Garotos Podres, que chegou a tocar na cidade, no antigo Bedrock, em Charitas.

“A atitude punk em Niterói aconteceu de maneira tímida, mais nos anos 1990. Mas faltou quem vestisse a camisa, se rebelasse de fato, morasse em casas abandonadas, por exemplo. Nesta época, tínhamos grunges, punks e ois (streetpunks) convivendo na mesma cena e, de vez em quando, rolava uma confusão”, analisa o jornalista e coordenador do Araribóia Rock, Pedro de Luna, responsável por compilar o submundo do rock niteroiense no livro “Niterói Rock Underground”, lançado em 2011.

Porém, acreditando na máxima “Punk is not dead” (“O Punk não está morto”), algumas bandas da região insistem em se reunir para tocar o famoso som “do it yourself”, ou seja, “faça você mesmo”. Ex-integrante da Nauzia, classificada por Pedro de Luna como principal representante do movimento da cidade, o guitarrista da Inércia, Rafael Almeida, 29 anos, acredita que os Pistols são uma referência não só para o rock’n’roll, mas para a música de uma forma geral.

“Na época, o progressivo tomava conta das rádios e dos palcos com solos e passagens instrumentais intermináveis, acordes e harmonias complexas. Daí, surgem os Pistols com aqueles caras de visual agressivo, com um som barulhento, simples, letras escrachadas, cheias de sarcasmo que extrapolavam a barreira da ofensa e jogavam no lixo os costumes e o conservadorismo britânico”, definiu o músico e produtor cultural.

Vocalista e coordenador de segurança, João Luiz, 42 anos, acredita que “o ‘Never Mind The Bollocks’ foi um chute no que se ouvia pela cidade” e que, sem a banda, seria difícil usar a revolta e a atitude como forma de se expressar.


Música de horror

Os Sex Pistols influenciaram o grupo de horror punk (subgênero do punk rock) The Misfits, que influenciaram a Nardones, recém-nascida em Niterói. Apesar da influência dos anos 1977 ser claramente refletida na atitude e na melodia, as letras não abordam problemas políticos e sociais, mas filmes B de horror. A banda é também um pouco psychobilly (que mistura rockabilly com hard core) e um pouco heavy metal. Mais “faça você mesmo” impossível.

“A displicência, informalidade e agressividade do Sex Pistols banharam e banham até hoje muitos jovens, que veem na forma deste som a melhor expressão de seu grito de frustração”, define o cineasta e vocalista da Nardones, Victor Rocha, de 34 anos.

Mas um ex-integrante da Nauzia, o jornalista e baterista Saulo Andrade, de 34 anos, acredita que não só o rock, mas o cenário cultural da cidade anda apagado. Para ele, os anos 1990 foram importantes para a efervescência do “underground” por aqui.

“Naquela época, eu fazia parte do movimento ‘Punk 77’ e o Victor era anarcopunk. Estamos aos poucos trazendo shows, com a reabertura da Box 35, o Convés e o São Dom Dom, em São Domingos. Mas a maioria das bandas é composta por pessoas bem mais jovens, que se limitam a tocar o que está na moda. Nossa ideia é resgatar uma espécie de ‘rock de raiz’”, aspira Saulo, que também toca na Cérebro Valvulado, misturando rock e blues.


Por: Natália Kleinsorgen

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